quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

LER PARA OS PEQUENOS

Ao ouvir histórias, os bebês, assim como as crianças, têm seu desenvolvimento cognitivo, emocional e social estimulado.
Por que as crianças gostam de ouvir histórias? A história contada é diferente da lida? São questões que devem ser discutidas entre os educadores e também no seio das famílias. A leitura é um alimento necessário para a participação na vida social e para a formação cidadã da criança. Ao aprender a ler, ela se apropria do mundo ao seu redor. Isso se dá quando diferentes práticas de leitura acontecem.
As crianças hoje são levadas para a escola cada vez mais cedo, onde ela precisa brincar, aprender e ser cuidada. Brincar é uma atividade necessária para todos. Na infância, a brincadeira possibilita o exercício da fantasia e facilita a comunicação. Mesmo que não haja brinquedos, a criança os inventa. Desde pequena, ela estabelece uma relação com algum objeto ao seu redor, que pode ser um brinquedo ou também um livro. É por meio do contato com esses objetos que ela vai conhecer as coisas e as pessoas: ao tocar, ao levar à boca, ao sentir o que existe perto dela.
Ao mesmo tempo, a entrada no universo da linguagem se dá antes mesmo de a criança ingressar na escola. A maneira como os adultos a cuidam: o olhar, os gestos, os ruídos (desde os sons sem sentido às cantigas), tudo isso inaugura o processo de aproximação com a leitura. Antes da comunicação verbal, o bebê aprende a não verbal, revelada pelos modos como os adultos interagem com ele.
Em pesquisa recente da Fundação Itaú Social, 96% dos brasileiros consideram importante ou muito importante o incentivo à leitura para crianças de até 5 anos. Porém, apenas 37% dos entrevistados leem livros ou contam histórias para elas. Por que poucos adultos leem para as crianças?
A leitura não atrapalha o desenvolvimento escolar da criança, ela é uma ferramenta para os pais e educadores. As crianças precisam ouvir histórias para aguçar sua imaginação. Isso facilita o processo de letramento, de aquisição da leitura e escrita autônomas. Ao ouvir histórias, seu desenvolvimento cognitivo, emocional e social é estimulado.
Os educadores podem e devem criar situações lúdicas, em que os sons e as palavras são os instrumentos para introduzir a criança no mundo da literatura. Ao cantar versos para as crianças ou juntamente com elas, o educador traz um ritmo e uma melodia que são repetidos por elas. Novas palavras e novos sons são descobertos. Ao fazer uma roda e ler uma história ou um poema, o educador estabelece um momento de encantamento e descobertas.
Muitas vezes, por falta de informação ou de esclarecimentos, o contato com a leitura se dá de uma forma mecânica e pouco natural. Ao cantar (cantigas de ninar e de roda, adivinhas, parlendas) para os bebês e crianças, os adultos contribuem para a aproximação deles com a literatura. A tradição oral revela um manancial de expressões que podem iniciar os pequenos no universo literário. Ao mesmo tempo, a cultura letrada está cada vez mais perto de nós.
Antes de a criança frequentar a escola, os pais deveriam envolve-la com a literatura, seja por meio de acalantos, das cantigas, seja por meio de livros de histórias e de poesia. É importante a criança ouvir o texto lido. Um conto lido é diferente de uma história contada. O que está escrito tem pausas, silêncios, ritmos próprios da língua escrita. A voz e a cadência da leitura marcam uma relação de confiança, de acolhimento para quem ouve. Para tanto, é necessário que o local seja preparado para o conforto das crianças, estejam sentadas ou deitadas. O adulto deve ler e ao mesmo tempo olhar para as crianças. Não deve se preocupar com conteúdos pesados (a violência, por exemplo) que estejam em textos ficcionais. A ficção é uma coisa que foi criada para divertir, distrair quem lê. As crianças sabem que nos livros há histórias cheias de encantamento, de fantasias, de terror. Elas precisam disso para viver, para elaborar as vicissitudes da vida cotidiana.
Quando sonhamos, reproduzimos imagens e sensações que fogem ao nosso controle, à nossa razão. As histórias ficcionais são feiras também desse material: da desrazão, daquilo que não tem explicação racional. Esses elementos presentes na literatura ajudam as crianças a entenderem os mistérios da nossa existência: o crescimento, as mudanças no corpo, as separações e as faltas.
As famílias devem se comprometer com o trabalho desenvolvido pela escola. O educador pode convidar os responsáveis pelas crianças para encontros com a leitura de obras selecionadas. Por sua vez, pedir a criança para trazer um livro de casa é uma maneira de conhecer o repertório da família. Um convite aos pais para irem à escola lerem ou contarem uma história pode ser um passo para um vínculo entre a escola, a família e a leitura.

Ninfa Parreiras – psicanalista, professora, autora de obras literárias e de ensaios para adultos, como O Brinquedo na Literatura Infantil: uma leitura psicanalítica (Biruta) e Do ventre ao colo, do som à literatura: livros para bebês e crianças (RHJ). (Fonte: Carta Fundamental, n.43, p.20-21, nov. 2012)
http://www.ofaj.com.br/textos_conteudo.php?cod=434

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

LER POESIA É MAIS ÚTIL PARA O CÉREBRO QUE LIVROS DE AUTOAJUDA, DIZEM CIENTISTAS

LER POESIA É MAIS ÚTIL PARA O CÉREBRO QUE LIVROS DE AUTOAJUDA, DIZEM CIENTISTAS

Resultados da pesquisa mostram que a atividade do cérebro 'dispara' quando o leitor encontra palavras incomuns
Ler autores clássicos, como Shakespeare, William Wordsworth e T.S. Eliot, estimula a mente e a poesia pode ser mais eficaz em tratamentos do que os livros de autoajuda, segundo um estudo da Universidade de Liverpool publicado nesta terça-feira (15).
Especialistas em ciência, psicologia e literatura inglesa da universidade monitoraram a atividade cerebral de 30 voluntários que leram primeiro trechos de textos clássicos e depois essas mesmas passagens traduzidas para a "linguagem coloquial".
Os resultados da pesquisa, antecipados pelo jornal britânico "Daily Telegraph", mostram que a atividade do cérebro "dispara" quando o leitor encontra palavras incomuns ou frases com uma estrutura semântica complexa, mas não reage quando esse mesmo conteúdo se expressa com fórmulas de uso cotidiano.
Esses estímulos se mantêm durante um tempo, potencializando a atenção do indivíduo, segundo o estudo, que utilizou entre outros textos de autores ingleses como Henry Vaughan, John Donne, Elizabeth Barrett Browning e Philip Larkin.
Os especialistas descobriram que a poesia "é mais útil que os livros de autoajuda", já que afeta o lado direito do cérebro, onde são armazenadas as lembranças autobiográficas, e ajuda a refletir sobre eles e entendê-los desde outra perspectiva.
"A poesia não é só uma questão de estilo. A descrição profunda de experiências acrescenta elementos emocionais e biográficos ao conhecimento cognitivo que já possuímos de nossas lembranças", explica o professor David, encarregado de apresentar o estudo.
Após o descobrimento, os especialistas buscam agora compreender como afetaram a atividade cerebral as contínuas revisões de alguns clássicos da literatura para adaptá-los à linguagem atual, caso das obras de Charles Dickens.
(Fonte:
Folha Online 15 Janeiro de 2013)