quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Literatura e sua importância

Aqui neste breve diálogo, vou sugerir um pouco de literatura. Neste momento atual de isolamento social no qual todos estão passando. A companhia de um livro é maravilhosa trazendo conhecimento, ideias novas, lazer e terapia. Além de tantos outros prazeres que os livros nos proporcionam. Deixo aqui algumas sugestões pessoais:

Poesia

Mario Quintana – Caderno H, Nova Antologia Poética, Preparativos de Viagem

Crônica

Martha Medeiros – Non Stop, Feliz Por Nada, Simples Assim

Romance espírita

Zíbia Gasparetto -  Tudo Valeu a Pena, O Amor Venceu, Sem Medo de Viver

História do Brasil

José Laurentino Gomes - 1808: Como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a História de Portugal e do Brasil

 1822: Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram dom Pedro a criar o Brasil - um país que tinha tudo para dar errado

1889: Como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado contribuíram para o fim da Monarquia e a Proclamação da República no Brasil

 


sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Felicidade como aptidão a ser desenvolvida

3 de setembro de 2020

Entrevista | Médico e pesquisador do Ibict, Jorge Biolchini destaca a importância de práticas como a meditação para melhorar a qualidade de vida

*Por: Jacira Cabral da Silveira
*Foto de capa: Arquivo pessoal

Para Jorge Biolchini, coordenador do curso de Plenitude Mental (Mindfulness) oferecido pelo Departamento de Medicina da PUC-Rio, felicidade é a capacidade humana de ser fértil, ou seja, é mais que um estado de espírito momentâneo, é um processo. É algo que pode aumentar ou diminuir e que pode vir acompanhada de um ou mais estados de ânimo. Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é doutor em Ciência da Informação pelo PPGCI/IBICT-UFRJ, com doutorado sanduíche no National Center for Biomedical Communications (NIH, EUA) e pós-doutorado na COPPE/UFRJ. Atualmente também é um dos coordenadores do Observatório de Evidências Científicas Covid-19, uma iniciativa do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), em parceria com o MCTI. Em entrevista ao JU, ele aprofunda o tema da felicidade como uma capacidade a ser desenvolvida, aspecto que em tempos de isolamento social assume especial relevância.

Considerando tua formação em saúde preventiva e o teor do curso que coordenas na PUC-RJ sobre plenitude mental, felicidade é uma prescrição médica?
Está se tornando, e tem estudos sobre isso, baseados em evidências científicas. Só um dado, por exemplo: se você medita, aumenta os indicadores de felicidade de fato. E isso pode ser comprovado no seu cérebro por exames de imagens. Pode ser comprovado porque você melhora seu cortisol, melhora seu índice de estresse, de sono, do sistema imunológico e cardiovascular. E melhora também a parte emocional e, com isso, você afeta o potencial de se sentir mais feliz de fato. Isso vem sendo estudado. 

Alguns campos da medicina estão mais à frente nesses estudos. Tornam-se cada vez mais um objetivo a ser alcançado o bem-estar, a felicidade. Uma coisa bem interessante é que a felicidade é uma palavra que a gente usa muito mais como bem-estar, alegria. 

A palavra felicidade em grego é muito mais rica em significado porque quer dizer fertilidade, a capacidade de você ser fértil. É a capacidade de ser criativa, produtiva, que vai bem além de um estado emocional, de alegria. 

O que diferencia felicidade de alegria?
O exemplo perfeito é o da risada. Alguém começa a rir, a gargalhar, daqui a pouco quase todo mundo, se não todo mundo, está rindo a sua volta. Já a felicidade, como algumas outras potencialidades humanas, como algumas virtudes humanas também, é ensinável. Você pode aprender a partir de treinamento teórico-prático. Você pode desenvolver, aumentar o seu grau naquilo. Por exemplo, se tivéssemos um ‘felicitômetro’, seria possível dizer que você saiu de 4 para 8, de 5 pra 9, e por aí vai. E também você pode despertar o interesse da pessoa em seguir nessa direção. Até essa conversa que a gente tá tendo: “Ah, isso é aprendível, é possível de ser aprendido, é possível de ser desenvolvido?”. Aí a pessoa se estimula, se motiva e vai buscar formas.  

Como anda a felicidade nestes últimos meses com o isolamento social?
Têm aparecido algumas iniciativas interessantes das pessoas usando esses recursos de conferência, de plataforma, para fazerem aniversários, reuniões sociais, até brindar cada um na sua casa. Têm formas bem criativas de você não se sentir isolado – porque na verdade o ponto central nessa questão é você se sentir isolado.

É claro que estar junto, pegar na mão e dar um abraço, dar um beijo, isso tem por si só um efeito que a tecnologia não supre. Mas você pode pelo menos reduzir o impacto negativo, fazendo conexão audiovisual. Daí a pessoa se sente “como se estivesse próxima”. Isso estimula áreas emocionais e afetivas do seu cérebro, e tem uma série de efeitos que você pode até comprovar em laboratório.

Eu mesmo, desde o início da pandemia, tive que rapidamente transformar uma turma presencial em online, aí criei uma série de meditações que fazia durante várias semanas e que fiz durante alguns meses, todos os dias, às 8h da manhã, de segunda a sexta. Mais recentemente, passei a fazer uma vez por semana, alguma coisa que a pessoa pode por si só continuar. E percebi, pelo feedback das pessoas, como era importante o fato de saberem que naquele momento iam estar juntas, mesmo que não vissem umas às outras, porque, ao fazer meditação online, você tem que silenciar o microfone de todo mundo, só fica ligado o do instrutor. Mesmo assim, a sensação de pertencimento, de união de grupo, de saber que tem alguém ali disposto a tornar você mais feliz… Recebi vários depoimentos: “Nossa meu dia foi diferente”.

É importante a disciplina nesse sentido?
Com certeza, como várias coisas, se não em todas que a gente quer desenvolver. Por exemplo, para aprender uma profissão ou um idioma novo, é preciso disciplina, exercitar, praticar. Você tem que regularmente se dedicar àquilo se quer ser um excelente instrumentista musical, uma boa cantora, uma boa esportista. Com todas as outras habilidades humanas é a mesma coisa, mesmo que sejam qualidades diretamente voltadas a uma profissão. 

A felicidade, assim como qualquer virtude humana, você também precisa cultivar. É como um jardineiro, como um agricultor que dedica seu tempo e sua energia pra sua plantação ir crescendo e se fortalecendo. 

Meditação é a mesma coisa, não adianta você fazer um curso e nunca mais praticar, é preciso se dedicar, se não aquilo não sai do lugar em você.

Estado de ânimo tem a ver com a felicidade?
Não, são fenômenos distintos. Você pode ter um estado de ânimo alterado quimicamente, isso não significa que você está feliz. Você pode ter o estado de ânimo alterado por causa de uma notícia súbita, até por um pensamento; pensa uma coisa negativa, o estado de ânimo muda; pensa uma coisa positiva, também. Estado de ânimo é uma variação emocional, está até em outra região do cérebro.

Felicidade não, felicidade é uma capacidade, como um potencial que você tem de capacidade. Seria como a inteligência, como algumas capacidades que nós temos. E nada disso é estático, nem a inteligência é estática. Você não nasce com um QI “X” e mantém esse QI o tempo todo, tudo é modulável. E cada vez mais se sabe que tudo na nossa mente, no nosso cérebro, é modulável, é muito dinâmico.

Um instrumentista, se não treinar, piora sua performance, assim é com tudo. A capacidade que a mente e o corpo têm de recuperar é impressionante, é muito rápida, ainda mais relacionada a alguma coisa que você já fez. Um exemplo clássico é andar de bicicleta, que, ainda que você deixe de pedalar durante anos, no início fica inseguro, mas rapidamente é como se você não tivesse deixado de andar.  Então, a capacidade humana de corpo e mente de retomar algo e levar para um patamar mais elevado é impressionante. 

Nesse sentido, vigiar o próprio pensamento é uma prática necessária, especialmente para nossa saúde mental?
É fundamental, porque muda muito, muda radicalmente a qualidade do que você faz e o resultado do que você faz, não só a qualidade enquanto está acontecendo. Isso em vários sentidos. Quando você faz um exercício físico, o risco de se acidentar é maior se estiver desatenta, se não estiver focando com um desenvolvimento mental maior. Daí vem a palavra mindfulness, plenitude mental, a pessoa está mais plena, mais presente. Não é pensamento positivo, é a maneira como você lida com o pensamento.

O pensamento positivo pode ser ilusório, a gente consegue criar um pensamento, entre aspas, do nada, mas o quanto aquele pensamento está sustentado na realidade? Está ligado à emoção?  O pensamento pode ser como uma nuvem que está solta no ar. Mas é a maneira como você lida com ele é o que muda. O aprendizado vai bastante nessa direção, na maneira de aprender a lidar com as coisas que acontecem com você, sejam sensações físicas, sejam sentimentos, sejam pensamentos. Dez pessoas recebem uma mesma notícia, cada uma vai reagir de um modo. Ué, por que, se o fato é o mesmo? Porque é a maneira com que cada um lida. Nós não somos vítimas dos fatos, o que acontece é em função de como você lida, não da coisa externa a você. 

Tais conceitos presentes em tua abordagem médica podem permear ou fundamentar políticas públicas de saúde?
Certamente. Vou dar um exemplo bem concreto. Há pouco tempo, o parlamento britânico aprovou a inclusão de meditação (mindfulness) em todas as escolas do Reino Unido, se tornou uma política pública de Estado, não de governo. Isso aconteceu porque realizaram um treinamento dos parlamentares, eles vivenciaram, não só tiveram palestras, mas sentiram na experiência deles próprios e perceberam que aquilo seria benéfico para todos os cidadãos e que seria muito importante começar ensinando nas escolas, porque a pessoa levaria isso pra sua vida. Bem, naquele sentido preventivo que você tocou anteriormente. Se houver a sensibilização dos gestores, ou dos políticos, dos legisladores, é possível serem criadas políticas e iniciativas públicas nessa direção. 

Como se implantaria um sistema desses em uma universidade que retoma as aulas numa situação como a que vivenciamos hoje de pandemia?
Eu diria que, para além da pandemia, já teria sido necessário antes, porque o índice de ansiedade, de depressão e até de suicídio entre estudantes vem aumentando, é uma triste estatística. Existem várias maneiras de lidar com isso: pode ser através de uma aula, um curso, uma disciplina; é possível inserir de diferentes maneiras dentro da estrutura acadêmica e educacional. Não só pode como deve, porque é benéfico em todos os sentidos – na inteligência emocional, na prevenção de problemas, no desempenho escolar, na melhora do aspecto emocional, na área da saúde. E isso com uma coisa simples que é um aprendizado, não tem que comprar um remédio ou um produto. Existem iniciativas isoladas no mundo inteiro. A Califórnia votou uma lei da mesma natureza que o Reino Unido para escolas do estado inteiro. Ou seja, você pode ter isso em governos ou em instituições.


Jacira Cabral da Silveira é repórter e editora executiva do JU. (Jornal da Universidade)

https://www.ufrgs.br/jornal/felicidade-como-aptidao-a-ser-desenvolvida/