sábado, 2 de agosto de 2014

A copa que eu quero

Eu não desisti. Quero a Copa! Um dia, quem sabe, seremos uma potência como a Alemanha, campeã com todos os méritos. Um dia, talvez tenhamos motivos de sobra para nos orgulharmos do Brasil. E não me refiro a futebol, que por sinal admiro e é um esporte adorado em boa parte do planeta. É que diante das mazelas que enfrentamos diariamente, o futebol se torna a coisa mais importante dentre as menos importantes. A emergência do Hospital de Clínicas de Porto Alegre está superlotada e mandando pacientes embora? Nosso país tem 56 mil assassinatos por ano e está no topo dos rankings mundiais de violência? A educação pública é tão ruim nos ensinos médio e fundamental que são necessárias cotas? O Brasil tem mais de 30 milhões de analfabetos funcionais? Se tudo isso é verdade, e é, nosso tema de casa como nação é urgente. Quando começamos?
O futebol é a metáfora da vida, disse Nelson Rodrigues, e nunca como nesta Copa que sediamos isto foi tão verdadeiro. Dentro de campo levamos duas sacolas de gols e ficamos rodando, desnorteados, feito baratas tontas diante da Alemanha e Holanda. Uma superioridade gigantesca. Massacre ou o termo que quiserem usar se aplicam. Nos amassaram. Ambas as seleções nos meteram dez gols em duas partidas, coisa que já fazem na vida real. E é aí que a goleada e a humilhação realmente machucam. Comparar saúde, educação, segurança, honestidade, IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e os indicadores sociais deles com os nossos é palhaçada, é o que verdadeiramente me tira o sono como cidadão brasileiro. Combater esta gigantesca distância deveria ser a camisa verde e amarela.
De nada adianta choros histéricos e demonstrações de emoção desmedida nas arquibancadas quando toca o hino nacional, se no dia a dia aceitamos ser um país vira-latas, de 3º mundo, vendo com normalidade políticos corruptos nos roubando e governos que tiram cada vez mais a nossa já cambaleante liberdade. Se nos omitimos diante do descalabro, somos responsáveis pela derrota.
Quem for a Berlim e pegar o metrô, verá que não há catracas. Parece até irreal, outro mundo. Pode maior evolução social que isso? Aqui jamais daria certo, mas não precisamos ser tão atrasados em tudo. Os alemães já tiveram suas mazelas históricas e hoje são referência. E o futebol é só um pequeno capítulo disso. A Copa que realmente importa, a Copa da Cidadania, eles já têm há muito tempo. Eu também quero.
Diego Casagrande - Metro Jornal de Porto Alegre - 15/07/2014.

http://www.metrojornal.com.br/nacional/colunistas/a-copa-que-eu-quero-109709

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